O Censo da Educação Superior é hoje um dos melhores retratos do estado da educação superior no país. A partir deles é possível pensar em políticas públicas que fortaleçam as universidades e a pesquisa. O Observatório do Conhecimento publica hoje a última reportagem da série sobre os resultados do último Censo da Educação e os desafios que eles apresentam para a reconstrução do ensino e pesquisa no Brasil.
Como reconstruir a Educação Superior?
Os dados do Censo da Educação Superior preocupam, não só porque mostra um quadro delicado, agravado pelo desmonte promovido pelo governo Bolsonaro, mas porque a educação brasileira está em um período crucial. Em 2024, o Plano Nacional de Educação chega ao fim. Além das metas estabelecidas, das quais muitas não serão cumpridas, é preciso começar a discussão sobre um novo plano, processo que exige tempo. Tudo isso cria um enorme senso de urgência em quem trabalha para construir uma educação de qualidade.
“Os desafios são gigantescos e de várias ordens: institucionais, orçamentários e normativos, como identificados no relatório. Alguns podem ser de mais rápida implementação, outros podem demandar mais tempo. A questão é: temos tempo para esperar?”, reflete o professor Romeu Bezerra, da UFSC, que atuou na formação de professores e foi diretor do Colégio de Aplicação da universidade entre 2004 e 2012.
A formação de professores é um exemplo bastante ilustrativo do problema. Entre 2016 e 2019, Nani Junilia de Lima pesquisou qual seria a necessidade de graduados em licenciaturas e pedagogos para o cumprimento de metas que envolvem a Educação Básica. “Para dar continuidade ao processo de erradicação do analfabetismo absoluto, universalizando as matrículas, seriam necessários 855.946 pedagogos; para universalizar a Educação Infantil seriam necessários outros 121.516 pedagogos e para propiciar educação em tempo integral para 50% das crianças brasileiras seriam necessários mais 296.151 pedagogos, o que aponta, no final, um déficit total de 1.216.294 pedagogos”, explicou a pesquisadora. E nesse caso, estamos falando do curso que tem o maior número de matriculados.
A dificuldade na formação de educadores compromete outra meta do PNE, a 8, que pretende elevar a escolaridade da população de 18 a 29 anos para 12 anos até 2024. “O PNE não é um objetivo que se atinge apenas por vontade, é preciso investir nisso, preparar isso. Outras áreas do conhecimento certamente tem esse mesmo problema, especialmente as licenciaturas”, explica Nani.
Há ainda o grave problema das vagas ociosas. Com os cortes nos orçamentos das universidades ficou a assistência estudantil ficou comprometida, o que é um agravante no atual contexto econômico de empobrecimento da população. Para a professora Eliane de Souza Cruz, da Unifesp, falta estímulo para que os jovens façam universidade. “Temos que defender a expansão de bolsas de pesquisa e auxílio, inclusive para estudantes do Ensino Médio. A evasão neste grupo está muito alta, e bolsas ajudariam a reduzir um pouco o dano”, defendeu a professora.
Para ela, é preciso também, sobretudo depois dos quatro anos de ataques do governo Bolsonaro, voltar a tratar as universidades públicas como elas merecem, centros de excelência onde se ensina, mas também se pesquisa. E a terceira parte do tripé, a extensão, também pode ter papel importante nessa reaproximação da universidade pública e da população. “Com a extensão você interage com o grande público, com a população. E essa população vai ficar sabendo da universidade.
Do Observatório do Conhecimento