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Jornal ADUFSCar | Coluna “Leia Também” nos convida à leitura de alguns poemas palestinos

Jornal ADUFSCar | Coluna “Leia Também” nos convida à leitura de alguns poemas palestinos

O professor Wilson Alves-bezerra, Docente no Departamento de Letras – UFSCar São Carlos, é escritor e colaborador do Jornal da ADUFSCar e na edição de outubro, em sua coluna “LEIA TAMBÉM”, nos convida à leitura de alguns poemas palestinos.

Vozes Palestinas

O primeiro é da jovem poeta Amal Abuqamar, nascida na cidade de Gaza. Ela é bacharel em árabe e professora na área de educação especial. O segundo é Samih Al Qassim (Zarqah, 1939 – Safed, 2014), um dos precursores da poesia palestina contemporânea.

Para a morte. Quando a morte virou símbolo nesta cidade?
Amal Abuqamar

Os cigarros da hora se acabaram
enquanto o homem traga o tempo irritado entre os lábios,
esmaga a cinza do pecado e enterra milhares de mulheres nos dedos.
Deus pendura as plaquinhas desta vida no corpo dos mortos,
e os fios emaranhados choram abraçados pelo sangue
e se estendem entre os túmulos dos vivos para puxar o coração dos coveiros.
Morre a vida da areia,
morrem as trepadeiras em cima dos corpos nos muros destruídos que não conservam as lágrimas dos perdedores.
Tudo aqui morre, tudo menos os mortos.
A morte aqui é eternidade,
a morte aqui é aquele bêbado que escreve um poema numa rocha usando o cinzel de seu eu, sem se dar conta.
Não sabe que há uma fenda na pedra da existência, vazia de sentido.

A morte aqui é luta,
luta entre as coisas esvaziadas de sua realidade
e uma mulher que, como eu, esfrega o corpo com o sal do nada.
Nenhuma morte cola no vestido das noivas quando gritam nas primeiras núpcias.
Nenhuma luz nasce do ventre da estéril que carrega dentro dela um poema.
Não tem sentido o vazio,
não tem outro sentido a realidade
que este: nascer, sempre, do amanhecer do sétimo céu.

(Abuqamar, Amal. “Para a morte. Quando a morte virou símbolo nesta cidade?” (Trad. Alexandre Facuri Chareti) In: TAYSIR, Muhammad. Gaza. Terra de Poesia. Rio de Janeiro: Tabla, 2022, pp. 13-4)

No século vinte
Samih Al Qassim

Aprendi a não odiar
durante séculos
mas me obrigaram
a brandir uma flecha permanentemente
diante do rosto de uma píton
a brandir uma espada de fogo
diante do rosto do Baal demente
a transformar-me no Elias do século vinte

aprendi
durante séculos
a não proferir heresias
hoje açoito os deuses
que estavam no meu coração
os deuses que venderam o meu povo
no século vinte

aprendi
durante séculos a não fechar a porta diante dos hóspedes
mas um dia
abri os olhos
e vi minhas ovelhas roubadas
enforcada a companheira de minha vida
e nas costas de meu filho
sulcos de feridas
então reconheci a traição de meus hóspedes
semeei meu umbral com minas e punhais
e jurei em nome das cicatrizes
que nenhum hóspede ultrapassaria meu umbral
no século vinte

durante séculos
não fui mais do que poeta
assíduo frequentador dos círculos místicos

mas me transformei
num vulcão em revolta
no século vinte!

AL QUASSIM, Samih. “No século vinte” In: LA BI, Abdellatif (org.). Poesia palestina de combate (1970) (Traduções indiretas de Jaime W. Cardoso & José Carlos Gondim). Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, pp 59-60)

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Sugestão de filme:
Promessas de um novo mundo (Dir. B. Z. Goldberg, Justine Shapiro, Carlos Bolado. EUA, 2001.)

Sugestão de livro:
SAID, Edward (1992). A questão palestina. (Trad. Sonia Midori). São Paulo: Editora da UNESP, 2011.

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