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MEMÓRIA ADUFSCar | João Pedrazzani relembra fundação da entidade e desafios da categoria

MEMÓRIA ADUFSCar | João Pedrazzani relembra fundação da entidade e desafios da categoria

O ano de 2023 marca os 45 anos de fundação da ADUFSCar. São quatro décadas e meia de uma história que une luta e resistência e que foi escrita pelas/os professoras/res que estiveram à frente da entidade nas mais diversas Diretorias.

Entre esses pioneiros, está João Carlos Pedrazzani, que tem uma longa história com a ADUFSCar. Uma história que começou antes mesmo da criação do sindicato, quando ele e outros jovens professores recém chegados na também jovem UFSCar, decidiram criar uma associação representativa de professores para defender e lutar pelos interesses da categoria. Nesta entrevista ao Jornal da ADUFSCar, o prof. Pedrazzani compartilha conosco um pouco de suas memórias.

Jornal ADUFSCar – Pode nos contar um pouco sobre sua trajetória acadêmica até chegar à presidência da ADUFSCar?

Nasci em São Carlos e sempre estudei em escolas públicas. Fiz graduação de enfermagem em Ribeirão Preto, mestrado em educação na UFSCar e doutorado na Unicamp. No fim dos anos 1970, fui convidado para ajudar a implantar o Curso de Enfermagem na UFSCar e aceitei por sentir que era um grande desafio. Inclusive, quero registrar aqui que quando cheguei na UFSCar, a Enfermagem funcionava na casa onde hoje é a sede da ADUFSCar, depois foi para a área norte, para o prédio onde era o RH que ficava na sede da fazenda. Naquela época a UFSCar tinha poucos professores, não chegava a 200 e todos muito jovens, com uma convivência muito boa. Outro desafio foi desenvolver um programa de capacitação do pessoal de enfermagem da área hospitalar da Santa Casa de São Carlos, que na época era extremamente básica, apenas com atendentes e auxiliares de enfermagem.

Jornal ADUFSCar – O senhor participou da ADUFSCar desde o início. Foi o segundo tesoureiro em duas gestões (1980 e 1988) e um de seus primeiros presidentes ao ser eleito em 1984. Quais eram os desafios naquele momento?

Muitos desafios. Entre eles fazer com que os docentes entendessem a importância de ter uma associação de professores representativa da categoria. Muitos docentes, os mais idosos, queriam uma associação mais de apoio, de assistência. Os mais jovens queriam uma entidade de luta, de reivindicação, com proposição democrática. Fizemos um grande debate interno, sadio e democrático para discutir, trocar ideias e reafirmar a importância da associação na luta da categoria docente.

Nessa época, a UFSCar era uma universidade jovem, não tinha ainda seus colegiados, as contratações não eram por concurso público. Era um regime fundacional, como todas as universidades existentes no período da ditadura. Aliás, nessa época obscura de nossa história, havia a intenção de que a universidade cobrasse pelo ensino, pra que ela pudesse se manter, esse era objetivo instituído nos anos 70 com a ditadura, que a universidade se mantivesse sem verba do governo e cobrando mensalidades.

No âmbito geral, manter o ensino público, gratuito e de qualidade, foi um dos maiores desafios que tivemos naquela época. Internamente, o desafio era fazer com que a UFSCar fosse mais democrática, com seus órgãos colegiados instituídos, contratação de professores por capacitação, não por indicação ou convite como acontecia até então. Eu mesmo, fui convidado, mas não achava certo, era uma desorganização total, tinha que ter concurso. Muitos professores eram contra a implantação de concursos para docentes e funcionários, eles achavam que do jeito que estava era bom. Foi uma luta dura, difícil, só quem estava nesse enfrentamento sabe a dificuldade que foi. Inclusive, nos éramos vigiados pelo regime, tanto internamente dentro da universidade, quanto externamente. A gente tinha que saber com quem conversava.

Jornal ADUFSCar – A ADUFSCar, a exemplo de outros sindicatos, luta pela valorização da categoria docente em todas as suas dimensões, mas também atua na defesa da universidade pública e de qualidade. Na sua opinião/visão, qual a maior contribuição que a ADUFSCar deu a UFSCar nesses 45 anos?

Na minha opinião, a maior contribuição da ADUFSCar para a UFSCar foi a luta incansável pela instituição do regime jurídico único, até então, as universidades federais eram divididas em três grupos: os centros técnicos, as autarquias e as fundações. Com o regime jurídico único, todos passaram a ter a mesma regra, junto com os demais servidores públicos.
Isso fez com que a UFSCar crescesse numa efervescência, sempre defendendo o ensino público gratuito e sendo reconhecida no cenário nacional em meio as outras universidades federais por seu importante papel, tanto no que diz respeito a qualidade da produção da universidade, quanto na sua origem sindical. E esse respeito vem graças a todo esse trabalho, envolvimento e enfretamento que fizemos na época da ditadura, nos anos 70 e no início dos anos 80. Foram movimentos fortes em que a ADUFSCar foi extremamente importante, o que nos enche de orgulho.

Jornal ADUFSCar – Como o senhor vê a ADUFSCar de hoje, 45 anos após a sua fundação?

As três primeiras décadas da ADUFSCar eu acompanhei de perto, vivenciei, aprendi, e tive muitos companheiros que também contribuíram na formação da entidade. Me afastei um tempo, por outras razões, mas nos últimos dois anos voltei a frequentar o sindicato e tenho muito orgulho de ver como a ADUFSCar cresceu no seu corpo docente com mais de 1400 associados, e também no espaço físico, estando presente em todos os campi da Universidade, com atividades políticas, culturais e assistenciais, que aproximam os docentes. Vejo hoje reestabelecida a defesa do ensino público de qualidade, que quase perdemos nesses últimos quatro anos. Por isso, uma entidade como a ADUFSCar tem que se manter viva e atenta, para que as ameaças ao ensino público, gratuito e de qualidade jamais se concretizem. Temos que manter a “chama da vigilância” sempre acesa, para que não voltemos mais para a escuridão que vivenciamos.

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